“Buscamos nos organizar a partir de nossas tradições populares antiautoritárias”

A ANA entrevistou a Associação de Trabalhadores de Base (ATB) do Rio de Janeiro (RJ), confira a seguir.
 
Agência de Notícias Anarquistas-ANA > Contem um pouco o que é a Associação de Trabalhadores de Base (ATB), como surgiu, histórico…
 
ATB < A Associação de Trabalhadores de Base (ATB-RJ) é uma organização sindical e popular autônoma, anticapitalista, antirracista e antissexista para trabalhadores de todas as configurações de gênero, etnias e raças. Reivindicamos a tradição que articula as experiências da Associação Internacional dos Trabalhadores (1864), das Bolsas de Trabalho e do sindicalismo revolucionário.
Sobre o seu surgimento, podemos dizer que, de certa forma, a Articulação de Grupos Autônomos (AGA), que promoveu feiras de economias coletivas entre outras atividades no Rio de Janeiro a partir de 2015, foi uma das precursoras da movimentação que veio a gerar a ATB. Mas podemos afirmar que o evento crucial para a criação da Associação de Trabalhadores de Base foi o I Seminário Autonomia e Organização, ocorrido nos dias 2 e 3 de março de 2018, no Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do RJ (SEPE) e no Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ).
A esse seminário seguiu-se outro, intitulado Autonomia e Organização: Diálogos com a Confederação Nacional do Trabalho (CNT-Espanha) em 26 e 27 de abril de 2019. Tais eventos tiveram participação do Coletivo FormigAção (valorosa empreitada da militância do Morro da Formiga), grupo Sindiscope autônomo (Sindicato dos Servidores do Colégio Pedro II-SINDSCOPE), RALE (Rede Autônoma de Luta pela Educação – SEPE), Coletivo Roça (da Favela da Maré), grupo Inimigos do Rei (categoria petroleira – SINDIPETRO-RJ) entre mais gente envolvida. A criação da ATB-RJ, no entanto, foi inspirada em iniciativas correlatas em outros estados. Naquela época tínhamos notícias de esforços nesse sentido no Rio Grande do Sul, São Paulo e Bahia. Com o pessoal de Salvador chegamos a conversar inúmeras vezes sobre a necessidade de ações mais coordenadas. É nossa intenção retomar essa rede federada o mais breve possível.

ANA > Vocês estão envolvidos em alguma luta trabalhista concreta?
 
ATB < Entre nossos/as membros/as temos pessoas ligadas à luta sindical na Educação (SINDSCOPE e SEPE), na Petrobrás e Justiça. Além disso, temos participação direta em movimentos sociais, o que priorizamos muito, como ocupações em favelas do Rio de Janeiro (Morro da Formiga e Maré), em bibliotecas (como a Biblioteca Engenho do Mato, de Niterói) e no Quilombo Cafundá-Astrogilda (Zona Oeste do Rio de Janeiro), onde inclusive foi formalizada a fundação da ATB, entre outros movimentos de classe importantes no Rio de Janeiro.
Durante a pandemia (COVID-19) optamos por uma atuação mais discreta, mas bastante efetiva, nas periferias. Renunciamos à propaganda mais explícita do nosso trabalho para um mergulho nas ações de distribuição de cestas básicas e outros auxílios materiais e logísticos. Nessa época iniciamos as nossas cotizações entre os filiados que foram muito importantes para a realização prática dessa nossa linha de atuação, uma vez que possibilitaram a acumulação de recursos financeiros para o posterior investimento em ações na periferia obedecendo ao nosso programa.
Passado esse período de grandes dificuldades, iniciamos então um debate importante sobre a questão cooperativista, já com uma iniciativa concreta nessa direção, na modalidade de ação conjunta na prestação de serviços. Esse aspecto é para a ATB de grande relevância, uma vez que é imprescindível para a consecução do autossustento, premissa sem a qual corremos o risco de estagnar na dependência exclusiva de apoios externos. Entendemos igualmente que os nossos futuros núcleos devem surgir de ações cujo protagonismo precisa ser das pessoas mais diretamente envolvidas. Tais aspectos só podem existir para nós combinados, sem hierarquia entre eles, de forma complementar e articulada.
Nessa mesma direção, estamos nos relacionando com outras organizações (os “Invisíveis” mais objetivamente) que atuam em apoio a pessoas terceirizadas, empregadas em autarquias e instituições direta ou indiretamente ligadas ao Estado. Prestamos solidariedade aos precarizados de forma ativa, quer em protestos nos locais de trabalho, quer no diálogo propositivo para encontrar vias mais adequadas para o encaminhamento das suas demandas. Valendo lembrar que essas pessoas vivem um cotidiano do mais violento assédio por parte dos empregadores e que os órgãos para os quais “prestam serviço” não os amparam de forma nenhuma.
Por força dessas importantes questões estamos dando prosseguimento à nossa campanha de formação de novos núcleos, em diferentes partes do RJ, com vistas a expandir as nossas atividades e conseguir ampliar o diálogo com as inúmeras experiências populares. Tal etapa é fundamental, uma vez que não se trata apenas da criação nominal de outros núcleos ou seções da ATB, mas da nossa capacidade de articular isso com as cooperativas, formas de produção de origem popular e criação de espaços de formação política.

ANA > Em um contexto social marcado por estruturas hierárquicas e de poder centralizado, quais são os maiores desafios que a ATB enfrenta para manter uma organização horizontal e não coercitiva? Como lidam, por exemplo, com pressões de instituições ou grupos que buscam cooptar ou criminalizar suas ações?

ATB < Os desafios que a ATB enfrenta para manter uma organização horizontal, desierarquizada, não são pequenos. Pois corremos sempre o risco de nos contaminarmos pelo modo de operar da maioria das organizações sindicais (conformadas a partir da legislação autoritária varguista) e também pelo sistema capitalista, que impõe práticas competitivas e de subjugação. Para nos preservarmos disso, buscamos nos organizar a partir de nossas tradições populares antiautoritárias criando nossos documentos (carta de princípios, estatuto etc.) e nos pautarmos por eles. Isso porque a anomia, longe de gerar liberdade, é uma fragilidade diante de eventuais tentativas de cooptação ou domínio de grupos opressores. Contra tentativas de subjugação, recorremos a nossos princípios, documentos e alianças criadas com outras organizações de cunho popular, dentro da lógica de autodefesa e denúncia permanente das ameaças sofridas por qualquer uma das nossas aliadas. Um procedimento que nos resguarda igualmente, além é claro de reforçar a dimensão política dos grupos com os quais temos relações. Contra a criminalização de qualquer militante, usamos o apoio mútuo, em harmonia com o que aqui já foi dito.

ANA > A ética anarquista valoriza a mutualidade e o apoio comunitário. De que forma a ATB constrói alianças ou redes de solidariedade com outros movimentos sociais, sindicatos ou comunidades sem reproduzir relações de dominação ou dependência?


ATB < Buscamos construir laços com movimentos populares, sindicatos e comunidades sempre sem paternalismo, sem pretensão de sermos portadores da verdade, mas tendo a compreensão de que as experiências comunitárias já existentes sempre têm a nos ensinar. Isso está em consonância não só com a ética anarquista, mas também com outras tradições populares que não necessariamente carregam esse nome. O que importa é a associação funcionar de acordo com princípios como democracia direta, independência de classe etc., rejeitando relações de dominação, seja de uma parte ou de outra.
A nossa experiência acumulada em relações políticas com sindicatos oficiais tem demonstrado que a nossa autonomia se afirma na mesma medida em que somos capazes de identificar as nossas pautas com as causas populares. Ou seja, os sindicatos percebem com alguma facilidade que nos dedicamos a setores com os quais eles não possuem nenhuma relação concreta e que, no mais das vezes, desconhecem quase que completamente. Em assim sendo é possível atuar com relativa unidade e algum sucesso em questões de corte racial sem que a entidade sindical tenha qualquer condição de subordinar a ATB à sua esfera político-administrativa. O impedimento de qualquer processo de cooptação já se encontra no fato de termos perspectivas completamente distintas no que diz respeito à ação em favelas e subúrbios. Em suma, tratamos preferencialmente de assuntos periféricos aos quais os sindicatos oficiais encontram-se historicamente alheios. 

ANA > Para vocês, qual é o papel da educação e da formação política na construção de uma consciência de classe anticapitalista e antiautoritária? Como a ATB enxerga o caminho para uma transformação social radical sem cair em vanguardismos ou modelos de revolução centralizados?

ATB < Para a ATB a educação tem um papel importante na disseminação de consciências críticas – anticapitalistas e antiautoritárias. Sabemos que a educação, sozinha, não tem como conduzir à autogestão social, pois com as péssimas condições materiais que o Capitalismo impõe ao povo, a própria educação não tem como se realizar plenamente. Mas, por outro lado, negligenciar práticas e experiências pedagógicas libertárias, considerando que uma revolução social futura magicamente ensinará tudo a todos, é um materialismo mecanicista típico de vanguardas autoritárias, que a História já demonstrou o quanto são nefastas à autonomia popular.
Vale acrescentar ainda que a nossa Associação tem em seus quadros filiados número significativo de pessoas diretamente ligadas à Educação, seja como ofício mais objetivamente ou em ações cotidianas e continuadas em espaços periféricos. Entendemos assim a formação como um fenômeno dentro do qual a formalidade ocupa apenas uma parte dos nossos esforços. Nesse sentido as nossas atitudes são igualmente pedagógicas, bem como os processos que ajudamos a estabelecer em territórios quase completamente abandonados pelo chamado “poder público”. Por força desse fato, os esforços realizam-se invariavelmente na lógica federada, com a observância da plena autonomia local e coesão ditada pela solidariedade de classe. Aspectos, aliás, que repetimos quase como um mantra em todas as partes por onde passamos.

ANA > Mesmo com sorteio de carros, shows com cantores midiáticos, o 1º de Maio em São Paulo das “grandes” centrais sindicais teve público reduzido. Podemos dizer que o sindicalismo oficial no Brasil hoje é um “cadáver ambulante”?
 
ATB < O que percebemos é que com a ascensão deste governo de coalizão ao poder, houve uma diminuição das ações sindicais no sentido de não desgastar Lula e seus aliados “à esquerda”, se é que assim podemos chamar. Um exemplo é a educação, pois o MEC, sob os auspícios de Camilo Santana, tem se aliado ao empresariado, na figura do “Todos pela Educação”, Fundação Lemann e afins. Saímos de um governo reacionário, com um MEC sob o comando de pastores e fascistas, para retornar ao um Ministério sob a liderança de um secretário ligado aos tubarões da educação. No meio de tudo isso, tivemos a reforma do ensino, da qual o atual governo buscou minimizar os danos, mas que continua sendo prejudicial aos/às estudantes. Os sindicatos precisam despertar para a luta de classes, não apenas classista de seus membros e membras. Isso independente de quem esteja no governo da democracia burguesa.
No plano ideológico, é preciso sempre ter em conta que somos adeptos do sindicalismo revolucionário e das tradições que o antecederam. Em assim sendo, a nossa oposição ao sindicalismo tradicional é mais que inevitável. Denunciamos sempre que possível as insuficientes iniciativas desses órgãos que se apresentam invariavelmente burocráticos. Contudo, as nossas investidas são sempre prioritariamente contra as instâncias mais objetivamente gestadas pelo capitalismo. Entendemos que existe uma rivalidade entre nós e os sindicatos corporativos, mas de nenhuma forma confundimos estes com as empresas privadas e a estrutura estatal que oprimem diretamente a classe trabalhadora. Estas últimas, as temos como inimigas. Sobre esse ponto, é necessário também sublinhar que na nossa dimensão estratégica os sindicatos corporativos não ocupam lugar significativo. São inclusive obstáculos, a depender da sua configuração ideológica. Mas nas nossas apostas táticas eles podem até se apresentar como agentes ou “parceiros” eventuais em iniciativas mais amplas, isso quando estiverem desenvolvendo algum trabalho nas periferias e territórios de resistência nos quais estivermos.

ANA > Vocês ficaram surpresos com a revelação de uma fraude bilionária no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) envolvendo sindicatos e associações de aposentados?

ATB < As fraudes não são novas e menos ainda a ingerência sobre os pecúlios da classe trabalhadora da parte dos governos. Isso é aspecto saliente da heteronomia patrocinada pelo Estado e grupos aos quais se associa para a espoliação dos produtores. O estelionato não se esgota nas urnas ele se apresenta através de procedimentos dos mais variados e com diferentes níveis de crueldade. Uma Seguridade Social gerida por um ente dos mais suscetíveis às pressões de grupos diretamente ligados ao grande capital jamais estará livre, não apenas dos escândalos financeiros, como ainda da ação especulativa de quem se apresenta para administrar seus fundos.
Temos hoje um passivo de razoáveis proporções nas mãos de grupos sindicais na forma de “fundos de pensão”, privados e semiprivados ou ainda semipúblicos. Uma verdadeira “ciranda financeira” que sustenta os apetites mais vorazes das burocracias encasteladas em sindicatos oficiais. Esses “gestores” são parte dessa engrenagem que tritura a classe trabalhadora e, particularmente nesse caso, com um cinismo escandaloso. São agentes do capital e agem como “vestais” no “Interesse dos contribuintes”. Uma tragédia legada pelo advento do sindicalismo corporativo dos anos de 1930 e que se reinventa, sempre contra a classe trabalhadora.
Por tudo isso temos tentado criar no âmbito da ATB cooperativas que venham a nos auxiliar a superar isso ou, pelo menos, mitigar os efeitos dessa política previdenciária nefasta para quem de fato carrega nas costas esse Estado em parceria com o qual a burguesia brasileira renova e garante o sistema de exploração.

ANA > Qual a opinião de vocês sobre o governo Lula atual, o “Lula 3”?
 
ATB < Mais recuado do que nunca, está refém de um congresso extremamente reacionário e fisiologista. Temendo o retorno de Bolsonaro e de seus aliados ao Executivo no governo federal. O governo vai se equilibrando entre as escassas vitórias no plano social e as estrondosas capitulações frente ao grande capital.
Os fatos só fazem confirmar a fisionomia desenhada por um dos quadros históricos do Partido dos Trabalhadores, segundo o qual o PT é hoje um partido de centro esquerda à frente de um governo de centro direita. Uma constatação que, aliás, não esconde o cinismo de quem a sustenta. Avaliamos que não há o que esperar do atual cenário e que, se de fato existe uma distinção entre o PT e seus adversários políticos, esta não resulta em diferença significativa para a situação da classe trabalhadora. Não há proveito substantivo para a massa de explorados, ainda que na retórica os atuais gestores da “coisa pública” reafirmem o compromisso com a elevação dos indicadores sociais.
No mais, o que assistimos é a execução de políticas raciais, que pouco incidem sobre os privilégios; ações de igualdade de gênero, que ignoram a diversidade social e o reconhecimento de identidades sexuais que não conseguem vencer os estigmas de um tecido social abandonado ao fundamentalismo religioso. Para o projeto genuinamente popular a fórmula não sofre alteração, fica cada vez mais evidente a necessidade da luta de classes e de estarmos prontos e organizados/as para uma futura revolução social antissistêmica e que tenha por princípio um viés anticapitalista. Para a consecução desse objetivo, o “Lula 3”, assim como os anteriores, não tem nada a nos dizer.

ANA Algum recado final? Valeu!

ATB < Agradecemos à ANA o espaço que nos foi oferecido generosamente e desejamos loga vida ao esforço empreendido pelas/os compas a ela vinculadas/os.  Nos interessa ainda sublinhar que a ATB não tem pretensões de substituir o sindicato oficial, menos ainda de o combater ferozmente, uma vez que entendemos que tratamos de uma categoria de trabalhadoras/es que estes sindicatos já abandonaram faz muito tempo. O nosso objetivo é ajudar a organizar a periferia, dar estrutura mínima para que iniciativas populares possam responder a problemas concretos que venham a se apresentar e reclamem por soluções coletivas. Queremos dialogar com o povo que existe abaixo dos “radares da receita federal”, dos que trabalham anonimamente e exercem profissões completamente desconhecidas. Sim, desconhecidas das entidades que estão vivendo no conforto dos descontos das margens consignadas de contracheques de trabalhadoras/es que ainda vivem na formalidade.
Para finalizar, convidamos as pessoas que tiverem interesse em entender melhor a nossa proposta a lerem os nossos documentos e postagens nos seguintes endereços: https://atbrj.wordpress.com/sobre/ e https://www.facebook.com/profile.php?id=100063463837497

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agência de notícias anarquistas-ana

Trezentos quilômetros
Para não vos contemplar –
Mangueiras da minha infância!


Paulo Franchetti

[Itália] Vamos parar o rearmamento. Desmantelem os exércitos. Antimilitarismo sempre

O mundo está cada vez mais mergulhado na devastação da guerra. Os estados da União Europeia iniciaram planos de rearmamento para adquirir equipamentos pesados, armamentos e estoques de munição. Paralelamente, preparam-se para aumentar as fileiras dos exércitos, tentando recrutar as jovens gerações propagando a ideologia militarista nas escolas e na sociedade, apresentando a carreira militar como uma alternativa ao desemprego e à precariedade, e reintroduzindo o serviço militar obrigatório em países onde ele havia sido abolido ou suspenso.

No início de maio, o estado de Israel iniciou uma nova fase da guerra genocida em Gaza, que tem como objetivos declarados a deportação em massa e a ocupação, enquanto intensifica o cerco militar na Cisjordânia. Nesses mesmos dias, o conflito entre Índia e Paquistão escalou para um confronto direto entre dois estados nucleares. O governo nacionalista, autoritário e racista de Modi tem o apoio, além dos EUA, também da Itália, que mantém com a Índia um comércio de armas do qual lucram os donos da indústria bélica.

Enquanto isso, apesar da retórica dos governantes, o massacre da guerra russo-ucraniana continua há mais de três anos. A Itália faz parte desse conflito, enviando tropas, veículos e aviões para o Leste Europeu. O governo italiano confirmou recentemente essas missões, destinando também um importante contingente militar para intervenção rápida, pronto para ser utilizado a critério do executivo.

O aumento dos gastos militares em nível global terá impacto no mercado financeiro e provocará a escassez de capital disponível para as chamadas políticas de desenvolvimento nos países mais pobres, além de criar uma crise de dívida com consequências gravíssimas, resultando em cortes de serviços e salários. Até os fundos de pensão investem na indústria de armas, um claro exemplo de como tudo isso afeta nossas vidas.

Os serviços de inteligência de vários países europeus continuam a alertar sobre um possível ataque da Rússia à UE até 2030. Esses anúncios contribuem significativamente para nos acostumar com a perspectiva da guerra, facilitando a aceitação, pelas classes populares, dos cortes decorrentes do aumento dos gastos militares.

Diante da escalada bélica, é preciso multiplicar o compromisso antimilitarista, contra todos os exércitos, contra a indústria bélica, contra todos os imperialismos e nacionalismos. Nessa perspectiva, é importante fortalecer as redes de solidariedade ativa em nível internacional e apoiar aqueles que, em todas as frentes, desertam ou se recusam a participar dos massacres.

Nas próximas semanas, será importante participar do bloco libertário da manifestação de 31 de maio em La Spezia contra a indústria bélica e promover iniciativas antimilitaristas em todos os territórios, começando pelo dia de luta de 2 de junho, convocado pela Assembleia Antimilitarista, e pelos dias de ação contra a OTAN, organizados pela IFA (Internacional das Federações Anarquistas) de 24 a 26 de junho, simultaneamente ao encontro da OTAN em Haia.

Fonte: https://umanitanova.org/fermiamo-il-riarmo-smantelliamo-gli-eserciti-antimilitarismo-sempre/

Tradução > Liberto

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agência de notícias anarquistas-ana

Cerejeira silvestre –
Sobre o regato se move
Uma roda d’água.

Kawai Chigetsu

[EUA] Resenha do livro: Uma Luta Contínua

O anarquismo nos EUA modernos às vezes tem a falsa reputação de ser um bando de jovens brancos privilegiados quebrando janelas sem motivo. Muito disso se deve a campanhas de difamação da mídia e do governo, entre outras coisas, mas parte disso também se deve às nossas próprias comunidades, onde os anarquistas que frequentemente se encontram no centro são brancos, etc. Sem querer ser totalmente nem todos brancos ou algo assim, mas existem alguns anarquistas verdadeiramente incríveis ao longo da história que eram/são brancos. Não estou aqui dizendo que eles não devem ser estudados e admirados. Estou dizendo que as pessoas estão perdendo um leque muito maior de anarquismo, incluindo o anarquismo negro. Um dos organizadores anarquistas mais empenhado e pouco conhecido é Martin Sostre. É muito difícil encontrar algo abrangente sobre ele por uma série de motivos que detalharei mais abaixo. Quando vi que uma biografia sobre Sostre estava sendo lançada, fiquei super animado para aprender mais sobre ele e sua vida.

Uma Luta Contínua: A Vida Revolucionária de Martin Sostre é uma obra de coração de Garrett Felber. Ele começa o livro humildemente, expressando sua preocupação de não conseguir fazer justiça à história, mas estando disposto a dar o seu melhor de qualquer maneira. Ele também menciona que havia sentimentos mistos sobre se Sostre desejaria ou não uma biografia, já que até mesmo sua morte foi mantida em sigilo quando ele faleceu. Acho que Felber fez um bom trabalho com essa biografia. Há um nível extenso e impressionante de pesquisa em história e materiais que não são facilmente acessíveis. Grande parte da escrita de Sostre foi na forma de cartas ou pequenos panfletos, em vez de livros e coisas mais facilmente arquivadas do passado. Também acho que Felber fez bem em destacar o aspecto revolucionário da existência de Sostre, como Felber e a família de Sostre imaginaram que ele teria preferido. Felber fez isso sem sacrificar a honestidade, no entanto, e fez bem em contar a história de Sostre como um ser humano, em vez de um líder impecável.

A vida e a história de Martin Sostre são essencialmente também uma história do complexo industrial prisional dos Estados Unidos e dos movimentos pelos direitos civis das comunidades negra e porto-riquenha em geral. Não se pode entender Sostre sem também compreender essas histórias. Acredito que Felber fez bem em preparar o cenário para o que estava acontecendo na época, incluindo a apresentação de mini biografias dos vários organizadores que trabalharam com Sostre. Sostre passou tanto tempo na prisão que grande parte de sua organização ocorreu atrás das grades. Sinceramente, foi bastante intenso ler sobre o que ele passou. No início da vida, ele foi preso por crimes relacionados a drogas, os quais admitiu. No entanto, seguiu em frente, mudou e criou estruturas comunitárias e libertadoras o colocaram na mira do Estado, que então o incriminou (agora documentado e admitido pelos policiais envolvidos) para mandá-lo de volta à prisão. Ele suportou torturas regularmente, mas permaneceu tão desafiador durante todo o processo. Sinceramente, não entendo como alguém poderia ter continuado, mesmo com o apoio que tinha e quão incrivelmente fortes eram suas crenças na luta.

Sostre exemplificou verdadeiramente o estilo de organização “propaganda da ação”. Embora escrevesse e fizesse discursos, infelizmente muitas vezes perdidos no tempo, seu verdadeiro foco era agir e construir comunidade. Fora da prisão (ou em parte internamente, com a ajuda de sua rede de apoio), Sostre criou espaços revolucionários que funcionavam como livrarias, bibliotecas, áreas de reunião comunitária e assim por diante. Lidando com tudo, desde fechamentos e bombas incendiárias do Estado, ele enfrentava tudo. Ele também se envolveu na organização de presidiários, apesar de estar cercado por muros de tijolos. Na prisão, ele resistiu à opressão sempre que teve oportunidade, mesmo em confinamento solitário, incluindo a luta contra a agressão sexual constante, as revistas corporais invasivas e os espancamentos que se seguiram. Há muita história interessante neste livro sobre a organização muçulmana na prisão, que levou à liberdade religiosa que vemos como mais comum hoje, embora falha. Sostre tinha uma rede de apoio incrível fora da prisão, composta por organizadores brilhantes e implacáveis. No entanto, mesmo eles tinham limitações diante da repressão estatal. Eu me pegava pensando constantemente em como era a vida dos presos — políticos e não políticos — que não tinham apoio algum. Quando finalmente saiu da prisão, mais tarde na vida, Sostre continuou a prática de criar livrarias/infoshops radicais e também se mobilizou em torno de moradia e educação em suas comunidades. Essencialmente, Sostre era conhecido muito mais pelo que fazia do que pelo que dizia.

A jornada de Sostre rumo à identificação como anarquista também foi interessante de ler. Como muitos, ele inicialmente via o anarquismo como coisa de gente branca, mas depois o percebeu como uma luta mais ampla. Ele descobriu repetidamente que o autoritarismo, desde as estruturas estatais até a Nação do Islã, era centralmente falho. Ler sobre alguém que passou de um policial militar corrupto no final da adolescência (uma história longa demais para uma resenha) a um nacionalista negro adjacente/marxista-leninista muçulmano e, finalmente, a um prolífico organizador anarquista acrescentou um nível de esperança à minha visão de mundo (e também o perdão do meu eu imperfeito na juventude). Sostre passou a influenciar outros anarquistas negros, como Lorenzo Kom’boa Ervin, que conheceu Sostre na prisão e se inspirou em sua orientação. A história é muito mais complexa e interessante do que detalhei neste parágrafo, então recomendo fortemente o livro antes de ver o quadro completo.

No final, acho que Felber foi bem-sucedido nessa tarefa monumental de contar a história complexa da vida de alguém que se passa em uma época complexa e em instituições complexas. Espero que, se Sostre estivesse vivo hoje, apreciaria a forma como sua história foi contada. Este livro é uma adição necessária às estantes de qualquer pessoa interessada em história, bem como de qualquer pensador anarquista ou de esquerda. Ele expande não apenas pressupostos gerais sobre o que é o anarquismo, mas também sobre os diversos sistemas de crenças e atividades que ocorreram durante os movimentos pelos direitos civis da época, tudo isso contando bem a história de Martin Sostre, que lutou até o fim.

Fonte: https://weightlessstate.blogspot.com/2025/04/book-review-continuous-struggle.html

Tradução > Bianca Buch

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Por onde caminho
sigo e também sou seguido —
Lua-desta-noite

Álvaro Posselt

“Lula destaca interesse em usinas nucleares em reunião com Putin”.

Pois é, além de pró-petróleo, o velhaco também é pró-energia nuclear. E não é de hoje, ele também quer retomar o empreendimento Angra 3. Com certeza, sequer passa pela cabeça dele desacelerar, decrescer, mas desenvolver, crescer, explorar, destruir… E foda-se o mundo natural, o meio ambiente, o clima… Sem rodeios, É UM ECOCIDA!

Nuclear = perigo permanente, deterioração do meio ambiente, desmatamento, poluição, exploração de recursos naturais…

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no canto da janela
nova linha do horizonte:
o fio da aranha.

Tânia Diniz

[Portugal] Para o anarquismo, esquerda e direita são apenas faces da mesma moeda da política institucional.

O modelo político tradicional criou duas esferas que se confrontam continuamente: a direita e a esquerda. Para quem não sabe, essa denominação remonta à época da Revolução Francesa, quando os mais radicais se sentavam à esquerda nas tribunas. Com o tempo, isso tornou-se uma definição usada em todo o mundo para identificar as polaridades políticas em disputa. No entanto, essa definição é bastante superficial e não contempla a proposta anarquista, que ficaria indefinida nesse espetro.

É simples de entender por que o anarquismo não tem lado: é contra o modelo político institucional; contra a luta parlamentar e a estrutura partidária; não é liberal e nada tem a ver com o capitalismo, além de desejar a sua destruição. O mesmo se aplica ao marxismo, que nunca será libertário, por mais que alguns desses “marxistóides” se esforcem por deformar o totalitarismo marxista e o seu capitalismo de Estado e partido único, tentando apresentá-lo como um socialismo “libertador”, um “comunismo real”, que sabemos bem que não é.

A prática anarquista leva muitas vezes à participação em movimentos sociais, de oprimidos e explorados, e por essa presença tende-se a adjetivar os anarquistas como “de esquerda” – mas não o são. Nos movimentos sociais, a principal preocupação anarquista é justamente romper com o modelo vanguardista, com lideranças centralizadoras e estruturas verticalizadas, muito comuns tanto à direita como à esquerda. Se observarmos bem, veremos que essas definições já não correspondem às práticas de nenhum dos lados. Isto porque uma parte significativa da esquerda mundial está no poder e favorece, acima de tudo, os mesmos interesses e clientelas que a direita sustenta. Há grupos empresariais que disputam entre si, mas isso já deixou de ser uma contenda ideológica – é apenas uma disputa por influência. Neste cenário, dizer “esquerda” ou “direita” é apenas um jogo de aparências.

A clareza da proposta anarquista assusta ambos os lados: abolição da propriedade, abolição dos partidos, abolição da riqueza, coletivização e administração direta dos meios de produção – uma sociedade organizada sem Estado e sem patrões. Tudo isto representa uma nova estrutura que supera e destrói o modelo atual, e isso é um perigo que tanto a esquerda como a direita não querem enfrentar. O modelo atual é demasiado confortável para ambos – conseguem apenas trocar de cadeiras e manter o jogo de poder, à custa da população, que continua sistematicamente excluída dessa brincadeira. As eleições são uma farsa destinada a legitimar essa estrutura excludente.

Os anarquistas denunciam esta realidade e, por isso, são atacados por ambos os lados. Isso demonstra que, como anarquistas, não devemos procurar ajuda ou apoio em nenhum desses lados. De ambos vieram sempre traições, que levaram milhões de pessoas à prisão e à morte.

Para o anarquismo, esquerda e direita são apenas faces da mesma moeda da política institucional, e a alternância de poder entre essas figuras não contribui em nada para a emancipação dos oprimidos e explorados.

O modelo atual não nos representa, e é necessário romper com esta lógica através da administração direta, feita por nós e para nós – sempre unidos!

A nossa lógica é outra: a da libertação direta, da emancipação de todos, sem intermediários nem governos, seja de que lado forem.

Construamos o anarquismo através de uma prática livre e direta!

Daniel Alves

Fonte: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2025/05/19/para-o-anarquismo-esquerda-e-direita-sao-apenas-faces-da-mesma-moeda-da-politica-institucional/

agência de notícias anarquistas-ana

lua de prata
desejos indecentes
corpos suados de luz

Manu Hawk

[Macapá-AP] Vídeoclipe | Nosso Petróleo

Este vídeo é um manifesto visual contra as formas hegemônicas de exploração que, em nome do progresso, reduzem a floresta a solo perfurável, a corpos descartáveis, a territórios negociáveis. Na Amazônia, é comum ouvir que o açaí é o nosso petróleo. A metáfora nasce do chão: não da lógica da escavação, mas da abundância que escorre das palmeiras e alimenta o cotidiano das pessoas.

L e t r a – Nosso Petróleo

Nosso petróleo não destrói, não envenena rios
Não perfura a terra

Escorre das palmeiras,

Roxo de vida. Não rasga a pele do mundo

É riqueza que cresce,

Que alimenta
Que se reparte
O deles cheira a morte,
Nas manhãs frescas
Na beira do rio.


La vêm o progresso
Com máquinas e promessas 

A floresta já conhece essa história
Isso cheira a morte 


Nosso petróleo é o açaí,

Nasce livre, nasce aqui!

Não é lama, nem veneno,

É raiz, é alimento.
Corre livre na floresta,

Forte, vivo, nos sacia. 

Não provoca dor na terra,

Nem em quem nela está.

>> Assista o vídeoclipe aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=MvnGfTfsJcs

agência de notícias anarquistas-ana

Suave crepúsculo
Sol emoldurando o ocaso
O pássaro sonha

Tânia Souza

[EUA] Bash Bash Revolution: Um Fim de Semana de Defesa Comunitária Queer e Antiautoritária

Anunciamos o Bash Bash Revolution, uma semana de música e esportes de combate para apoiar diversos projetos autônomos de autodefesa e ajuda mútua.

O Bash Bash Revolution é um evento de fim de semana que acontecerá de 23 a 25 de maio de 2025, com o objetivo de fortalecer nossas relações, aprimorar nossas habilidades e promover a cultura de treinamento de esportes de combate entre revolucionários, antifascistas e anarquistas.

O fim de semana contará com oficinas de defesa comunitária/autodefesa, uma feira de zines, show punk e exibição de filme. Além de promover a comunidade, cada evento servirá como arrecadação de fundos para projetos radicais de autodefesa internacionais e locais. Para mais informações, visite @bashbashrevolutionnyc no Instagram.

23 de maio

Show Punk com Luta Livre ao Vivo

Local: Our Wicked Lady, Brooklyn

Abertura às 19h, show às 20h

Organização: Leg Drop Productions

Venda de merch e arte para arrecadar fundos para o NYC ICE Watch

24 de maio

Feira de Zines e Oficinas

Local: La Plaza Cultural, Manhattan

Horário: das 12h às 16h

Venda de merch para arrecadar fundos para Gaza Boxing Women

25 de maio

Oficinas e Exibição do Filme L.C.B.D.

Local: INTERCOMM, Queens

Oficinas das 13h às 15h, exibição às 15h30

Venda de merch e doações para arrecadar fundos para La Cultura Del Barrio

Fonte: https://itsgoingdown.org/bash-bash-revolution-a-weekend-of-queer-anti-authoritarian-community-defense/

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

livro aberto gelado
o norte geme no vento
sobre a página branca

Lisa Carducci

[Galiza] II Feira do Livro Anarquista – Pontevedra, 24 e 25 de maio de 2025

P r o g r a m a ç ã o

Sábado, dia 24

– 11h Abertura da feira

– 12h Apresentação do livro: “Pecadoras – Genealogía de la cultura del castigo y las prisiones de mujeres”, por seu autor Sol Abejón Olivera

– 13h Jantar e sessão vermú com DJ Tuna Loins

– 16h Oficina de criação de fanzines

–18h Apresentação do livro: “Un círculo y una A. Anarquismo para jóvenes y adolescentes”, a cargo do seu autor Héctor C García

– 20h Bingo punk

Domingo, dia 25

– 11h Oficina de criação de selos exlibris [carimbos de gravação], com Alouette machine

– 12h Apresentação do livro: “Más allá del Burnout” + Dinâmica – a cargo da Editorial Bauma.

– 14h Jantar + concerto: Cibrán

– 15h Recital poético

Sábado 24 e domingo 25 de maio no Paseo Odriozola (Praza da Perrería)

Organizado por: Ateneu Libertário de Pontevedra – Colaboradores: CGT-Pontevedra

Contato para distribuidoras, editoras e coletivos: [email protected]

@ateneolibertario.pontevedra

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No cimento quente,
A ilusão de um oásis:
Vaso de samambaias

Edson Kenji Iura

[Irlanda] 80º aniversário da Revolução Russa

Por Damian Lawlor


Em 1922, após testemunhar pessoalmente o resultado da Revolução Russa, a anarquista Emma Goldman descreveu como “a Rússia Soviética havia se tornado a moderna Lourdes socialista”. Oitenta anos após a revolução na Rússia, uma reflexão sobre esse período tem mais do que apenas valor histórico. Muitas organizações de esquerda ainda consideram essa era o modelo para futuras revoluções. Para desafiar essa concepção bolchevique de organização e revolução, analisamos quais foram as consequências desse modelo.

Os bolcheviques se organizaram como um partido de vanguarda, que pretendia liderar a revolução. Essa estrutura levou a resultados específicos, e um olhar para a história “oculta” da Revolução Russa ilustra isso. Lênin, em seu livro “Estado e Revolução”, fala de uma sociedade onde todo cozinheiro governará.

Mas, na realidade, o Partido, na sua qualidade de líder da revolução, governava. Em 9 de novembro de 1917, um soviete (comitê de delegados operários eleitos) no Comissariado do Povo dos Correios e Telégrafos já havia sido abolido por decreto. Mesmo antes disso, com a revolução mal tendo libertado os trabalhadores da escravidão virtual, os líderes bolcheviques já diziam aos trabalhadores que “a melhor maneira de apoiar o Governo Soviético é continuar com o seu trabalho”.

Lênin, em março de 1918, escreveu (Obras Reunidas, Vol. 27, página 270) que o Partido se relaciona com os trabalhadores guiando-os “pelo verdadeiro caminho da disciplina do trabalho, pela tarefa de coordenar a tarefa de discutir em assembleias de massa sobre as condições de trabalho com a tarefa de obedecer inquestionavelmente à vontade do líder soviético, do ditador, durante o trabalho”. Eis o que se passa com cada cozinheiro que governa.

Estes não são apenas incidentes isolados. O Partido logo começou a institucionalizar seu domínio. Por exemplo, os comitês de fábrica, em vez de poderem formar federações entre os setores, tiveram que se reportar a órgãos antidemocráticos escolhidos a dedo pelo Partido. É nesse contexto que Daniel Guerin argumentou que “Na verdade, o poder dos sovietes durou apenas alguns meses, de outubro de 1917 à primavera de 1918”.

Como os bolcheviques “garantiram” a revolução? Trotsky, como líder do Exército Vermelho, reintroduziu a disciplina regular do exército, incluindo não apenas execuções por deserção, mas também todas as pequenas regulamentações, como a saudação, que dava aos oficiais cargos especiais. Ele aboliu a eleição de oficiais, escrevendo que “a base eletiva é politicamente inútil e tecnicamente inadequada, e já foi posta de lado por decreto”.

O Terror Branco foi combatido com punições coletivas, punições categóricas, tortura, tomada de reféns e punições aleatórias. Estas não eram dirigidas apenas a “brancos” conhecidos, mas também a seus amigos e familiares. Em 3 de setembro de 1918, o jornal bolchevique “Ivestia” anunciou que mais de 500 reféns haviam sido fuzilados pela Cheka de Petrogrado, não por terem cometido um crime, mas por terem tido o azar de pertencer a uma família desfavorável.

Alguns argumentarão que esse terror foi legitimado pelo Terror Branco. Mas, em abril de 1918, o terror seria usado contra grupos políticos que apoiavam a revolução, mas se opunham ao regime bolchevique. Em dois dias de abril de 1918, 40 anarquistas foram mortos ou feridos e cerca de 500 presos em uma série de ataques em Moscou e Petrogrado.

Todas as principais publicações anarquistas foram proibidas em maio de 1918. Isso apesar de os anarquistas terem lutado pela revolução em outubro, com quatro deles no Comitê Militar Revolucionário que coordenou o levante. Nos quatro anos seguintes, centenas e, depois, milhares de anarquistas foram presos, encarcerados, torturados, exilados e executados. Outros partidos de esquerda pró-revolução sofreram destino semelhante, e em 1919 também os trabalhadores que agiram independentemente contra o regime.

Os modos de organização bolcheviques têm resultados específicos: a centralização do poder. Esse tipo de organização significa que “Stalin não caiu da lua”, mas foi o herdeiro dessa organização antidemocrática. Isso se opõe ao “Socialismo de Baixo” e ao lema da Primeira Internacional: “a emancipação dos trabalhadores deve ser obra dos próprios trabalhadores” e não de algum partido de “vanguarda”.

anarkio.net

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sobre a cerca,
os mais novos girassóis –
ninguém à vista

Rosa Clement

Conversatórios sociais, café e anarquismo

É com grande alegria que os e as convidamos para esse ciclo de conversas sobre temas importantes, sensíveis e atuais!

A abertura ocorrerá no dia 24 de Maio com a conversa sobre Geografias das Autonomias Indígenas, onde, um dos temas trazidos será o zapatismo, essa conversa contará com o autor do livro de mesmo nome. Em junho conversaremos sobre a Questão Palestina, tão atual e delicado, já que a população Palestina, em especial de Gaza estão sendo massacrados e assassinados pelo estado israelense.

Em julho daremos uma parada e voltamos em agosto com duas conversas. Uma sobre Educação Anarquista em que será abordado a parte teórica, bem como falaremos da questão sindical dentro da educação. A outra, falaremos sobre as mulheres anarquistas e feminismo a partir do livro “Companheiras: mulheres anarquistas em SP” onde poderemos contar com a presença da autora.

O fechamento será no dia 21/09 com uma mini feira de materiais anarquistas, com programação a ser divulgada posteriormente.

Esperamos encontrar vocês para um bom debate e um bom café!

Mais informações em [email protected]

CRONOGRAMA

24/05 às 15h30 – Geografia da Autonomia (CASA DA PALAVRA / SA)

14/06 às 15h – Questão Palestina (PMMR / SBC)

02/08 às 15h – Educação Anarquista -Teoria e Prática (PMMR / SBC)

30/08 às 15h – Companheiras: mulheres anarquistas em SP (PMMR / SBC)

21/09 (domingo) das 12h00 às 18h – Mini feira de materiais anarquistas.

agência de notícias anarquistas-ana

Um ventilador
espalha o calor
e as notas da sinfonia

Winston

Do Púlpito Acadêmico às Trincheiras Vazias: A Encruzilhada do Anarquismo Contemporâneo

A crítica à paralisia do anarquismo no Brasil não é nova, mas permanece urgente. Enquanto o capitalismo avança, o Estado endurece suas garras e as desigualdades se aprofundam, parte do movimento anarquista local parece ter se enclausurado em uma bolha de teorização infinita. Essa “paralisia reflexiva”, como alguns a nomeiam, revela um descompasso entre a produção intelectual e a ação direta. Não se trata de rejeitar a teoria — essencial para a crítica radical —, mas de questionar por que tantos coletivos e indivíduos anarquistas se satisfazem em discursar sobre a revolução enquanto reproduzem dinâmicas hierárquicas e passivas típicas da academia.

A assimilação da cultura acadêmica pelo anarquismo é um fenômeno perverso. Nas universidades, a produção de conhecimento frequentemente serve à carreira individual, à competição por reconhecimento e à legitimação de hierarquias intelectuais. Quando anarquistas adotam essa lógica, transformam-se em “teóricos da revolução” que prescrevem fórmulas abstratas, distantes das lutas concretas. A linguagem hermética, os debates intermináveis sobre nuances doutrinárias e a fetichização da teoria como fim em si mesma são sintomas de um academicismo que desarma a práxis. Não é surpresa que muitos desses grupos, embora críticos do poder, reproduzam a dinâmica da academia: pensar para os oprimidos, nunca com eles.

Historicamente, o anarquismo brasileiro floresceu nas fábricas, nos sindicatos e nas comunidades, articulando teoria e ação. No início do século XX, operários anarquistas organizavam greves, editavam jornais militantes e criavam escolas livres, entendendo que a transformação social exigia presença, não apenas reflexão. Hoje, parte do movimento parece ter trocado as assembleias populares por simpósios universitários. Claro, a academia pode ser um espaço de resistência, mas quando a teoria não retorna às ruas, não dialoga com as necessidades imediatas do povo, ela se torna um exercício de autocelebração — e, pior, uma forma de neutralizar o potencial revolucionário do anarquismo.

O academicismo não é inocente: é uma ferramenta de domesticação. Ao confinar o pensamento crítico a artigos indexados e debates entre pares “esclarecidos”, a academia coopta a radicalidade anarquista, transformando-a em objeto de estudo inofensivo. Quando militantes aderem a essa lógica, reforçam a ideia de que a mudança social é tarefa de “especialistas”, não do povo organizado. Pior: essa postura alimenta uma divisão de classe dentro do próprio movimento, onde intelectuais acadêmicos — majoritariamente brancos e de classe média — ditam as pautas, enquanto trabalhadores, negros, indígenas e periféricos permanecem como meros “casos de estudo”.

É preciso resgatar o caráter popular e prático do anarquismo. Isso exige descer do pedestal teórico e mergulhar nas lutas cotidianas: ocupações urbanas, resistência indígena, greves, coletivos antifascistas, ações mutualistas durante crises. A teoria anarquista deve nascer dessas trincheiras, não de referências bibliográficas europeias descontextualizadas. Questionemos: quantos coletivos hoje estão nas quebradas, construindo hortas comunitárias ou enfrentando a polícia ao lado dos moradores? Quantos priorizam a formação política horizontal em vez de palestras com linguagem inacessível? A revolução não será um artigo bem-referenciado — será um processo construído nas brechas do sistema, com suor e solidariedade.

Superar a paralisia exige autocrítica e coragem. Não basta denunciar o academicismo; é necessário romper com a comodidade dos círculos fechados e assumir riscos. O anarquismo não é um clube de debate, mas um projeto de transformação radical. Se queremos honrar nossa história e enfrentar os desafios do presente, precisamos substituir a “performance revolucionária” por ação direta, vinculada às urgências do povo. Que nossas teorias sejam armas, não ornamentos. E que nosso maior legado não sejam teses, mas territórios livres, relações descolonizadas e a certeza de que, enquanto houver opressão, haverá anarquistas dispostos a combatê-la — não apenas nas páginas de livros, mas nas ruas, onde a história realmente se escreve.

Liberto Herrera.

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Pra que respirar?
posso ouvi-la, fremindo,
maciez de noite.

Soares Feitosa

Lula é um pacifista de araque!

Em visita oficial à China, Lula “paz e amor” se reúne com Cheng DeFang, CEO da Norinco, uma das maiores empresas produtoras de armas e serviços militares do mundo. Na pauta do encontro “negócios no Brasil”, leia-se “mercado da morte”, armamentos, reequipamento do Exército Brasileiro… Segundo a grande imprensa, “A Norinco vai mandar até o fim de maio uma delegação ao Brasil para prospectar oportunidades de negócios, seja nos setores de defesa e segurança e outras áreas como óleo e gás e mineração”.

POR UM MUNDO SEM FRONTEIRAS, SEM EXÉRCITOS, SEM INSTALAÇÕES BÉLICAS, SEM MERCADO DA MORTE, SEM OPRESSÃO, EXPLORAÇÃO E GUERRAS!

SOMOS ANARQUISTAS, SOMOS ANTIMILITARISTAS!!!

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Vento refrescante
que se contorcendo todo
chega até aqui.

Issa

[México] Comunicado pela libertação imediata de Ignacio Córdoba Cruz

Histórico

Ignacio Córdoba Cruz é um companheiro rapper, punk, anarquista, defensor do território e solidário com os desaparecidos e com as lutas sociais, que atua há mais de uma década em diferentes movimentos de resistência contra o poder, criando laços de camaradagem e resistência. Em 5 de junho de 2015, no âmbito das mobilizações pelos desaparecidos de Ayotzinapa e da ampla convulsão social que estava ocorrendo em todo o México, ele foi vítima, juntamente com outros colegas estudantes da Universidade de Veracruz, de uma agressão para-policial orquestrada pela SSP de Veracruz, na qual, por meio de infiltração, um grupo de capangas entrou no apartamento onde estava sendo realizada uma festa de aniversário e atacou brutalmente os estudantes com bastões, facões e outras armas, deixando uma cena terrível de tortura, sangue, ossos quebrados, vidros estilhaçados e sofrimento. O Estado, por meio da SSP, tentou assassiná-lo e, desde então, ele vem sofrendo anos de perseguição policial por suas convicções e ações políticas.

Atualidade sobre o caso

Em 15 de maio de 2025, durante a marcha em repúdio à homenagem a Fidel Herrera Beltrán, em que a imprensa informou que não houve prisões, o companheiro Ignacio Córdoba Cruz foi ilegalmente detido pelas forças de segurança pública por volta das 12:00 da tarde e mantido desaparecido por mais de 9 horas. Sua detenção nunca foi registrada no Registro Nacional de Detenções, mais uma vez violando seus direitos. Durante todo o período de sua busca, todas as instituições policiais ocultaram o paradeiro e a situação legal de Ignacio Córdoba Cruz. Até que por volta das 22 horas da noite, soube-se que ele estava na Procuradoria Geral do Estado, na Direção Geral da Polícia Ministerial, onde apresentava sinais de tortura. Diante disso, não temos dúvidas de que o Estado está tentando criminalizar nosso companheiro Ignacio Córdoba Cruz e que o atual governo de MORENA continua aplicando as mesmas políticas de terrorismo de Estado e perseguição de ativistas sociais dos governos anteriores.

Exigimos total respeito aos seus direitos, ao devido processo legal e responsabilizamos o governo de Rocio Nahle pela integridade de Ignacio Córdoba Cruz e por qualquer ato de intimidação, repressão ou perseguição à sua família, amigos, companheiros e pessoas solidárias ao caso.

Liberdade imediata para Ignacio Córdoba Cruz!
Parem com a criminalização do protesto social!
Que a solidariedade seja mais do que palavras!
Fazemos um apelo internacional de solidariedade ao nosso companheiro!

Atenciosamente.

Companheiros Solidários com Ignacio Córdoba Cruz / Xalapa Veracruz, 16 de maio de 2025

Notas da imprensa.

https://www.avcnoticias.com.mx/noticias-veracruz/xalapa/366313/marcha-anti-homenaje-a-fidel-herrera-termina-en-pintas-da-os-y-tensi-in-con-guardia-nacional.html

https://www.avcnoticias.com.mx/noticias-veracruz/xalapa/366327/exigen-aparici-in-del-activista-ignacio-c-irdoba-cruz-tras-presunta-detenci-in-en-xalapa.html

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ao vento de outono
a sineta de ferro
subitamente toca!

Dakotsu

[Espanha] Bonanno, o titã da revolta

Em dezembro de 2023, Alfredo M. Bonanno nos deixou. Longevo, ele havia nascido em pleno fascismo. Com ele, pela lei da vida, agora se esvai o abandono daqueles que nasceram na década de 1930. Sua morte nos priva das contribuições de um dos últimos titãs anarquistas, que dedicou sua vida e militância à revolta. Sua figura se insere em nossa tradição libertária na mesma categoria de gigantes, tanto por sua presença ativa em tempos e lugares conturbados quanto pela ampla difusão de suas reflexões.

Caracterizamos Bonanno como um titã pela envergadura de sua figura, mas também porque, como os titãs, ele assaltou o Olimpo anarquista. Um Olimpo ideológico no qual figuras e axiomas referenciais haviam se tornado, aos poucos, reverenciais. Contra essas reverências, alheias ao espírito iconoclasta inerente ao anseio anarquista, Bonanno protagonizou sucessivas revoltas contra a fossilização das ideias e práticas libertárias. Pois, se o anarquismo é em si uma torrente em permanente construção que se transforma e se adapta em sua luta contra os tempos e desafios de cada época, também gerou guardiões de uma ideologia fossilizada que necessariamente precisa ser derrubada. Dessa forma, e no contexto do anarquismo hispânico, Bonanno atuou como uma figura rebelde contra as diferentes caracterizações do Domínio. Mas também contra os axiomas libertários imobilistas das diversas épocas por quais passou sua vida militante.


Não é, portanto, coincidência que a primeira aposta editorial da militante Campo Abierto, em 1977, em sua coleção Debate Libertário, tenha sido “Autogestão” de Alfredo M. Bonanno. Porque aquele texto surgia em um contexto de intenso debate interno entre as diversas correntes libertárias que eclodiam com a reorganização da CNT. Um tão esperado relançamento anarcossindicalista que deveria atualizar suas premissas teóricas e práticas para se adequar à realidade de um novo movimento operário. É nesse contexto que aparece “Autogestão”: um compêndio que combinava as contribuições conselhistas com a tradição libertária, e que surgia como uma fusão própria para os tempos conturbados que havia vivido e que se viviam na península itálica. Também naquela época, Bonanno viajava para nossas terras, frequentando a companhia dos mais heterodoxos libertários locais, que logo seriam afastados de uma CNT já fragmentada pela força centrífuga das novas ortodoxias.

Seus textos de síntese também bebiam de uma irreverência situacionista que nunca recuou diante do uso criativo do plágio ou da provocação típica das vanguardas artísticas. Assim, naquele ano, ele publicava na Itália “La gioia armata”, no qual reivindicava armar-se de prazer para enfrentar gozosamente a vida e a luta emancipatória. Ele seria condenado por isso. Ainda assim, o jogo continuava e, pouco depois, os caras sérios da revista “El viejo topo” mordiam a isca e publicavam o falso “Testamento político” de Sartre, por trás do qual estava Bonanno.

Na segunda metade da década de 1980, com o surgimento de novas gerações libertárias, a figura referencial do nosso titã voltou a se fazer sentir. Os novos grupos ativistas levariam em consideração a produção contemporânea do então chamado “anarquismo revolucionário” em revistas italianas como Provocazione ou o trabalho editorial de sua irmã anglo-saxã Elephant Editions e da incansável Jean Weir. Nelas, não se buscava precisamente a distância da prática ilegalista anarquista, nem dos recentes “anos de chumbo”. Isso os colocava próximos dos novos rebeldes que também não encontravam seu espaço nas organizações libertárias clássicas sobreviventes, repletas de renovadas rigidezes, e que apostavam em seu imaginário político pela prática e estética do confronto urbano. Por outro lado, periódicos como “Sicilia Libertaria”, no qual Bonanno colaborava, tornavam-se referências próximas às novas fusões entre tradição libertária e lutas de libertação nacional que emergiam na época. No entanto, as contínuas entradas na prisão, condenado também por ter participado de assaltos para arrecadação de fundos, frequentemente impediam sua anunciada participação nos diversos fóruns e encontros da época. A lenda do titã ia sendo tecida.

Em meados dos anos 1990, Bonanno publicava “La tensione anarchica”. Paralelamente, grupos juvenis libertários abrigados nos locais cenetistas evoluíam para a prática da ação direta, querendo, assim, distanciar-se, segundo sua análise, de uma marginalidade na qual as organizações libertárias haviam se acomodado. Na Itália, começava o chamado “Processo Marini”, pelo qual se perseguia o “insurrecionalismo”, processando dezenas de anarquistas e conceituando sua área de divulgação e certos autores como os ideólogos do movimento. Entre eles, novamente Bonanno, por “apologia”. A onda repressiva teria consequências no estado espanhol com as detenções em Córdoba em 1996 e visibilizaria a opção “insurrecionalista” local. E, com o novo milênio, o Black Bloc popularizava a tática do confronto anarquista dos mais jovens nos protestos contra a globalização capitalista, potencializando, por sua vez, a tomada de iniciativa anarquista. Conceitos como “organização informal” e similares, divulgados em folhetos e artigos por Bonanno desde os anos 1980, se instalariam com força durante uma década. Seria então que seus opúsculos ou textos atribuídos a ele seriam traduzidos e publicados com mais profusão. As propostas também se instalavam do outro lado do Atlântico, revitalizando cenas libertárias semelhantes em alguns territórios da América Latina.

Em 2009, Bonanno foi novamente detido na Grécia, como participante de um assalto. O longo processo judicial coincidiria com o início da crise da dívida soberana do estado helênico, que abalou a União Europeia. A crise revolucionou as bases da sociedade grega, transformando a vontade em possibilidade real de construção de uma mudança radical anticapitalista. Dessa forma, o dinamismo da área anarquista durante aquela longa crise elevou a relevância da proposta “insurrecionalista” por mais um lustro. Apesar disso, além de alguns questionáveis limites na eficácia da articulação militante em organização informal e dos altos custos humanos do ilegalismo, em alguns ambientes juvenis ativistas, a proposta anarquista insurrecionalista se converteu em uma nova ideologia fossilizada. Sob a abreviação “insu”, uma pequena comunidade se identificava, fazendo da pose de revolta seu modo de vida, e para a qual a figura de Bonanno passava de referencial a reverencial. Os intensos debates internos da área do anarquismo revolucionário, que também eram uma mostra de sua riqueza e dinamismo e que se proliferavam em momentos críticos, como durante o Processo Marini ou a crise grega, eram preferencialmente ignorados pela comunidade “insu” hispânica.

A resposta do já idoso militante foi diluir o protagonismo que a imprensa lhe atribuía e que encantava os autoproclamados seguidores. Assim, a última tarefa iconoclasta do titã consistiu em negar o espetáculo Bonanno.

Jtxo Estebaranz

Fonte: https://www.nodo50.org/ekintza/2025/bonanno-el-titan-de-la-revuelta/

Tradução > Liberto

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Libélula!
Dá saudades da terra natal
A cor deste muro

Buson

[França] O Centro Internacional de Pesquisa sobre o Anarquismo de Marselha

O CIRA (sigla em francês) foi fundado em Marselha em 1965 por um grupo de ativistas anarquistas, entre os quais estava René Bianco (1941-2005).
 
Originalmente, era uma filial do CIRA de Lausanne, fundado em 1957. Posteriormente, o CIRA de Marselha tornou-se autônomo.
 
Desde sua criação, o CIRA passou por diversas sedes. Por muito tempo, ficou abrigado em um porão úmido, onde os documentos corriam risco de deterioração. Graças a Émile Temime (1926-2008), conseguiu ocupar um espaço maior na rua dos Convalescentes, mas acabou sendo despejado em 1989. Em 1991, realocou-se em um novo local na rua Santo Domenico, antiga sede de uma igreja armênia que precisou ser restaurada. Permaneceu lá até dezembro de 2011, quando a prefeitura de Marselha rescindiu seu contrato de aluguel. Com a criação de um fundo coletivo há cerca de dez anos, a venda de barris de vinho e um apelo à solidariedade, finalmente foi possível comprar e reformar um espaço na rua Consulado. Desde janeiro de 2012, o CIRA está localizado nesse endereço.
 
O CIRA faz parte da Federação Internacional de Centros de Estudos e Documentação Libertária (FICEDL), que se reuniu pela última vez em Saint-Imier (Suíça) em 2023. É independente de qualquer organização política ou sindical, o que não o impede de participar de ações solidárias.
 
Seu principal objetivo é coletar, classificar e arquivar tudo relacionado ao anarquismo. Seu acervo possui aproximadamente 10.500 livros (9.200 em francês, 540 em espanhol, 360 em italiano, 300 em inglês) e 5.000 folhetos. Esses documentos foram escritos ou publicados por anarquistas, ou têm relação com o movimento e suas ideias. Assim, há tanto obras favoráveis quanto contrárias ao anarquismo, além de biografias e escritos de pessoas que foram anarquistas em algum momento da vida. O CIRA também guarda arquivos pessoais de militantes, cartazes, filmes, documentos iconográficos (fotos, postais), materiais digitais, trabalhos acadêmicos (300) e arquivos biográficos.
 
Cerca de 1.700 periódicos são enviados por editores e arquivados (1.400 em francês). O CIRA mantém um diretório com 3.212 publicações anarquistas em língua francesa entre 1850 e 1993. Os documentos estão em cerca de 20 idiomas, principalmente francês, espanhol, italiano, inglês e alemão.
 
A biblioteca de empréstimos é mantida por doações e parcerias com editoras (centenas de títulos por ano). A digitalização do catálogo começou em 2000 e segue em andamento, disponível online. Um catálogo físico de fichas também pode ser consultado no local.
 
O acervo é aberto ao público de forma gratuita para ativistas, estudantes, pesquisadores, jornalistas ou curiosos. Pedidos de informação são respondidos por e-mail, desde que a pesquisa não seja muito extensa.
 
Publica um boletim (46 edições até hoje), com temas variados: desde panoramas das coleções até números temáticos, como o Congresso de Marselha de 1879, a Segunda Guerra Mundial sob a perspectiva anarquista, biografias de militantes e o anarquismo na Argentina. Complementam o boletim uma Bibliografia Anarquista Anual (desde 1990) e um informativo bimestral (desde 1999). Como editora, o CIRA publicou dois livros em parceria (sobre Han Ryner e André Arru) e 18 calendários (desde 2008).
 
O CIRA organiza palestras, debates, exposições e encontros com autores. Em 2024, temas incluíram o genocídio dos ciganos, o “cerdolí” (hibridação animal), o populismo e a economia libertária. Colabora e promove colóquios, como Cultura Libertária (Grenoble, 1996) e Alexandre Marius Jacob (2005).
 
Organizou a Feira do Livro Anarquista de Marselha (FLAM) em 2003, 2010 e 2015, além de participar de eventos editoriais.
 
Em 1989, parte do acervo (1.750 periódicos, 2.000 cartazes) foi depositada no Arquivo Departamental de Bouches-du-Rhône, em Marselha, onde está disponível para consulta.
 
O CIRA tem mais de 230 membros, de várias regiões da França e outros países. Administrado coletivamente por um conselho eleito, sustenta-se principalmente pelas contribuições dos associados (mínimo de €30/ano). Membros podem emprestar livros.
 
Informações práticas:
 
Endereço: Rua Consulado, 50, Marselha (13001), próximo à estação Saint-Charles e La Canebière.
Horário: Segunda e quarta, 15h–18h30; sexta, 10h–16h. Fora disso, agende por e-mail ([email protected]) ou telefone (+33 09 50 51 10 89).
Site: https://www.cira-marseille.info.
 
Fonte: redeslibertarias.com
 
Tradução > Liberto
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
tantos outonos
em uma paisagem
chuva nos pinheiros
 
Alice Ruiz

[EUA] Escreva para Leonard Peltier | Juntos somos mais fortes!

Leonard Peltier ficou preso por quase 50 anos, mas foi liberado da prisão no início deste ano. Leonard é um ativista indígena norte-americano que foi acusado e condenado pelo assassinato de dois agentes do FBI em Pine Ridge em 1975. Leonard sempre alegou não ser culpado, e o julgamento contra ele foi criticado, entre outras coisas, pela falta de provas contra Leonard.

É claro que a liberação de Leonard em fevereiro é maravilhosa. Mas, infelizmente, isso não significa que ele esteja completamente livre. Leonard foi submetido à prisão domiciliar como restrição, o que significa que ele não tem permissão para sair de casa. Outra coisa que complica a difícil situação de Leonard é que ele ainda não recebeu os cuidados médicos de que precisa, depois de anos de negligência na prisão. Ele está aguardando uma cirurgia ocular em maio. Leonard tem 80 anos de idade.

Leonard ainda precisa de nosso apoio. Mostre a ele que não está sozinho. Continue escrevendo cartas para ele (Leonard não consegue ler devido a uma doença ocular, mas recebe ajuda para ler todas as cartas que lhe são enviadas).

JUNTOS SOMOS MAIS FORTES!

Você pode entrar em contato com Leonard pelo endereço:

LEONARD PELTIER
PO BOX 760
Belcourt ND 58316
EUA

Tradução > acervo trans-anarquista

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agência de notícias anarquistas-ana

Vento de outono –
Um arco de madeira nua
Vamos encordoar!

Mukai Kyorai

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